Sargentos da CART 2412
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História da Unidade (3)
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Espaço de memória dos ex-combatentes da CART 2412 "SEMPRE DIFERENTES" que estiveram na Guiné em Bigene-Guidage-Binta-Barro de AGOSTO68 a MAIO70. Aberto a todos os veteranos de guerra. guinecart2412@gmail.com
Agora temos os 3 Magnificos da "SECRETARIA" Ou seja os três sargentos que passaram pela Companhia. O sargento responsável pela Companhia era o 2º. Sargento Rodrigues. Pelo pouco tempo de convivência que tive com ele fiquei com a ideia que era um homem amargo e que aquela vida que levávamos na Guiné não favorecia em nada a sua existência. Um problema de visão de que ele se queixava constantemente também não ajudava nada a sua disposição. Esteve connosco 6 ou 7 meses e deixou-nos para sempre até ao fim da nossa Comissão.
ResponderEliminarFicou o 2º. Sargento Almeida a substituí-lo. Foi sempre o sargento que mais acamaradou connosco, não sei se também por ter sido furriel miliciano antes de seguir a vida militar ou se era mesmo da sua maneira de ser familiarizar-se mais com toda a gente. Era uma pessoa de óptimo trato e que não nos afastava como a maioria dos superiores da nossa classe, que parecia que só estavam bem quando nos viam pelas costas.
Eu agora reflicto que para nós jovens de vinte e poucos anos era muito mais fácil de aguentar todos os entraves que aquela vida nos proporcionava. Para as outras classes etárias era muito mais complicado. Então dos cinquenta anos para cima devia de ser quase intolerável passar por aquelas situações.
Passo agora ao substituto do 2º. Sargento Rodrigues o 2º.sargento Faria. Este um homem do norte, mais própriamente de Braga, que nos acompanhou até ao fim da Comissão de Serviço, mas que infelizmente já não nos pode acompanhar mais.
E por aqui me fico com a velha e conhecida frase,
adeus, até ao meu regresso.
Manga de abraços.
Adriano Moreira
Quando chegámos à Guiné no dia 16 de Agosto de 1968 tivemos a sorte de ficar 2 semanas no Quartel de Adidos em Brá, a poucos Km de Bissau.
ResponderEliminarAssim pudemo-nos ir integrando lentamente naquela vida e pensar na fatia que nos poderia tocar daquele "BOLO MAU".
Tirando Bissau e arredores o resto era mau.
Talvez se pudesse dizer que o Norte era menos mau que o Centro e o Sul.
No dia 30 disseram-nos é para Norte, Bigene é o nosso destino.
Lá embarcamos mais uma vez, desta numa LDG à procura do Rio Cacheu e depois pelo Cacheu adiante até Ganturé.
Aí tínhamos um pelotão da CART. 1745 para a recepcção aos "piriquitos" e para nos escoltarem até Bigene.
Pela primeira vez tivemos um bocadinho da percepção da Guerra lançando os nossos olhares desconfiados para a vegetação ora dum lado, ora do outro da estrada e direccionando os nossos ouvidos para um conjunto de novos sons, como que a tentar coá-los e arrumá-los nas prateleiras do nosso cérebro.
Chegados a Bigene fomos metido num antigo Armazém com o chão cimentado e lá colocamos o nosso colchão insuflável bem como o resto dos nossos pertences.
Diga-se que aquele armazém passou a ser o nosso dormitório, bem como noutras divisões foi o dormitório dos restantes Sargentos e até dos Oficiais e até serviu para o funcionamento da Secretaria da Companhia.
O restante corpo da Companhia Cabos e Soldados conseguiram juntar-se aos da 1745 e muitos deles senão a totalidade conseguiram camas nas respectivas casernas.
Mais tarde viemos a saber que juntamente com a CART.1745 e a C.Caç.3 formávamos o COP.3, que era comandado pelo Major Correia de Campos.
A partir daí iniciamos o nosso Treino Operacional e passamos a tomar contacto com a guerra própriamente dita na região de Sambuiá.
Começamos po fazer uma batida a Samoge, que depois se transformou num golpe de mão a Talicó tendo feito um prisioneiro, que veio a falecer já em Bigene, mas am contra-partida também tivemos a nossa primeira baixa mortal.
O meu melhor ajudante na Enfermaria o 1º.Cabo Aux.Enfº. João Baptista da Silva, mais conhecido por LOURO por ser de Louro - Famalicão teve a infelicidade de ter sido atingido por uma ou mais balas no pescoço tendo tido morte imediata.
(Continua)
Depois de ter tido conhecimento do que se passara durante a peração estava eu em Bigene não sei se só ou acompanhado à espera que fossem chegando os guerreiros e os primeiros a chegar foram precisamente o ferido turra e o nosso Louro numa Berlliet. Quando eu reparei bem no estado em que estava o nosso Louro não fui capaz de impedir que um paralelismo que surgiu aos meus olhos se desvanecesse até hoje.
ResponderEliminarTal como S. João Baptista o nosso João Baptista da Silva tinha a cabeça quase separada do tronco, devido ao bambolear do trajecto que foi feito. Primeiro aos ombros dos seus e nossos camaradas, depois numa maca improvisada com ramos de arvore e dolmens de camuflados a atravessar bolanhas e carreiros,até chegar aos últimos kilómetros de distância percorridos em Unimog ou Berlliet já nem tenho bem a certeza.
Mas foi terrível a sensação sentida da nossa pouca imortalidade em idade de imortais.
Foi tremendo em todos os aspectos e modificou completamente a minha vida e acção em relação à minha pessoa perante a Companhia.
A 14 de Outubro seguimos para Binta a fim de substituirmos a Cart. 1648 que tinha terminado a sua comissão.
Subimos mais um bocadinho o rio Cacheu e a 15 chegamos a Binta.
Logo a seguir ao desembarque seguiu o 2º. Pelotão para Guidage para substituír o pelotão da 1648 que lá estava a fazer serviço.
Passados 2 dias foi-nos comunicado que Guidage passava a ser mais imporante que Binta em termos operacionais, pelo que o pelotão de Comando e o 1º. Pelotão seguiram para Guidage ficando o 3º e 4º Pelotões em Binta para segurança e protecção ao aquartelamento.
A partir dessa altura ficou o Martins em Binta e eu segui mais o Agnelo para Guidage.
A partir daí passei a saír algumas vezes a nível de pelotão para não sobrecarregar demasiado o Agnelo. Assim até Janeiro de 1969 as coisas foram-se processando desse modo, até recebermos o reforço do Azevedo que já melhorou consideravelmente a situação.
A 9 de Março voltamos às mudanças e passamos a substituír a CCaç.3 no sector de Barro, passando esta para o nosso sector de Binta e Guidage.
Desta vez Cacheu abaixo no Patrulha até Ganturé e novamente de Ganturé para Bigene para aí só nos refrescarmos e seguirmos quase de imediato para Barro o nosso último poiso antes do regresso à Metrópole.
(Continua)
Há aqui um parentesis que devo fazer em nome da verdade e do companheirismo quanto ao infausto acontecimento da morte do Louro.
ResponderEliminarEstava eu acabrunhado sem saber muito bem o que devia de fazer em relação ao Louro, quando o furriel Moita se dirigiu a mim e disse-me mais ou menos nestes termos: Moreira deixa estar que eu mais os meus enfermeiros vamos tratar do Louro e quando ele estiver pronto eu chamo-te a ti e aos teus enfermeiros para se despedirem do Louro. E assim foi realmente depois de todos os preparativos feitos e já metido na urna que o iria levar até Bissau e posteriormente até à Metrópole fomo-nos despedir do Louro com um até sempre Camarada.
Esse favor e acto de solidariedade do Moita e seus enfermeiros é credor da minha amizade para com os ENFERMEIROS da CART. 1745, oxalá estejam todos vivos e de boa saúde, pois nunca mais soube nada deles.
Um grande abraço de amizade e reconhecimento por tudo quanto fizeram por nós os CAMARADAS DA 1745.
Até sempre, camaradas.
Adriano Moreira - Ex-Fur.Enfº. da CART 2412
Depois de nos instalarmos em Barro e começarmos a cativar a população que tirando a sempre tradicional oferta do "bajudame" para lavadeira, não se chegava a nós nem por nada. Nem sequer para virem à enfermaria.
ResponderEliminarNunca tivemos tão pouco trabalho na nossa vida militar como naqueles primeiros dias de Barro.
Isto no caso dos enfermeiros, pois na parte operacional o desconhecimento da zona é pelo contrário sinónimo de mais trabalho para a ficarmos a conhecer como a palma e as costas das nossas mãos e a ponta dos dedos e tudo.
E assim lá fomos tomando conhecimento dos novos sítios para fazer campismo.
Mas para não ficarmos tristes nem com saudades de Sambuiá nos dias 14 e 15 arranjaram-nos uma diversãosita para dois grupos de combate da nossa companhia juntamente com um grupo de combate da Cart.1745 irmos até Tabajan com o òbus 10,5 fazer fogo a bater as zonas mais adequadas para protecção da C.Cav.2443 e da C.Caç.3 que andavam em batida pelo meio da mata em sítios diversos. Para o fim da tarde regressamos a Bigene com o óbus e partimos de novo para o mato em direcção a Conaia onde pernoitamos.
Mas em Bigene deu-se um "golpe de teatro" com a maioria dos soldados e graduados do pelotão da 1745, dizendo que estavam doentes e cansados e que já não tinham condições de regressarem à mata por falta de forças e estarem completamente extenuados.
Posta a situação desta maneira não nos restou alternativa senão irem só os nossos dois grupos de combate.
Mal rompeu a manhã pusemo-nos em marcha em direcção ao rio Talicó patrulhando de novo Tabajan seguindo para Talicó e finalmente Malibolon que era o objectivo da nossa missão.
Vimos algumas casas de mato abandonadas com roupas e alguns mateiais lá dentro as únicas coisas mais importantes que trouxemos connosco foi uma longa já bastante velha e uma caixa de cartão com algumas munições.
Ao resto pegamos fogo e pusemo-nos em direcçao à foz do rio Talicó entrando na LDM que estava à nossa espera.
Acabamos por ser os felizardos desta operação, pois não tivemos qualquer contacto com o inimigo, infelizmente as outras companhias já não puderam dizer o mesmo.
Foi a última operação que fizemos em Sambuiá com o nome "SALTA TURRA".
(Continua)
Esqueci-me de dizer que estes dias 14 e 15 referem-se ao mês de Abril de 1969 e os grupos de combate foram o 3º e 4º. que para além de mim que saí a nível de Companhia foi o Alferes Pires que a comandou independentemente do seu grupo de combate não ter actuado por ter ficado a tomar conta do aquartelamento.
ResponderEliminar(Continua)
Calma camarada Moreira, calma!
ResponderEliminarAinda vais parar à tua enfermaria!
Desconfio que consegues escreves mais agora do que em toda a tua vida. Quase que dava para escreveres um romance, quanto não vale ter a HISTÒRIA da UNIDADE para consulta. Ou será para compensar os que nada dizem, nem sequer para dizer olá, eu vi e li e ainda cá estou?
Só há um senão, tens que te habituar, como fazem os pseudo-escritores, a mandar fazer a revisão dos textos para não haver apêndices. Ou será que é consequência do PI (Publicação Indesejada)?
Qualquer dia também começo a publicar a minha versão de: "A Minha ida à Guerra... " que começa assim: Estava eu muito refastelado... etc, etc, etc...
Continua que algum dia vai acabar... a História da Unidade, claro.
Um abraço
cumprim/jteix
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Isto realmente é a minha versão da guerra, a minha verdade, o que eu vi e vivi.
ResponderEliminarRealmente estou de acordo contigo, se não me ponho a pau, quase faço outra História da Companhia.
Se calhar é mesmo para compensar o "Silêncio dos Inocentes"
Um abração.
Adriano Moreira
Inocentes qual inocentes?
EliminarCulpados e condenados a prisão perpétua no matoso, ou em alternativa a viverem neste inferno chamado Portugal.
Abraços